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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Uma miragem...


- Isabel! Bom dia! Já sabia que cá estarias... tu e o Rui. Estás preparada? Eu vou mostrar aquilo que valho! Assim mesmo. Com todas as letras. 
Era uma leve esperança de que os conhecimentos de História e Política fossem compatíveis com o denso programa apresentado: uma selva! Talvez porque uma boa parte do nosso passado, assim como do presente, histórico-político não seja, exactamente, um conto de fadas. O nosso: Humanidade, claro. Que este rectângulo pequenino tem tido, ao longo dos séculos, os seus desvarios, mas nem por isso tem pecado por originalidade. Não, nesse campo não! É uma fartura... não foram os feitos, a que sempre damos maior relevância, e sentir-nos-íamos presos numa teia.
A globalização... só a palavra é que é de agora. De resto desde que os portugueses circum-navegaram a Terra ninguém mais soube de que terra era. Pois, pelo menos isso gravei, há muito: fomos importantes. Deixamos marca, enfim, fizemos história que, entre outras (histórias), consta nos livros que se foram acumulando - livros e livros... Seria desta que uma flor com história iria carregar com a História. Era uma promessa. Não! Promessa era demasiado comprometedor. Talvez, mais uma ameaça...
Isso! Uma olhadela de soslaio para o monte... umas vezes mira-se títulos e figuras, outras lá ficam abertos, incumbidos da tarefa de estudar sozinhos... e ao fim - típico - num abrir e fechar de pétalas, esfolheia-se tudo, da raiz à corola, dá-se um pouco mais de atenção à raiz, e zás!, o que tiver de ser tem muita força!
De Março a Junho... dois meses e meio! Tarefa hercúlea, mas manda a justiça que se diga que este tipo de orquídeas sobressaem mais em situações de stress e entregues a si próprias. Sem tempo. Agora e já! Portanto, num caso destes... está à vista: fé no "expertise" do momento e está no ir.
Embora não se convencesse... Não acreditava em milagres e até Santo António, este ano, de 1988, não andava nada casamenteiro por aquelas bandas. Não obstante, nem que fosse só a oportunidade de ver e pisar a escadaria daquele palácio e, ainda por cima, por uma causa tão nobre, tudo valia a pena.
Palácio Burnay
O Palácio Burnay(*), ali, em Alcântara com cheiro a mar, é um exemplar, escasso, do modelo de residência da alta burguesia urbana de Lisboa, do começo do séc. XIX. Para além de ter sido, também, residência oficial de Verão do Patriarcado de Lisboa. Daí Palácio dos Patriarcas ser uma segunda designação pela qual o imóvel é conhecido.
Subir a sua escadaria principal era voar nas asas do sonho. Um sonho de uma flor de braços abertos para o mundo académico. O céu! 
Mas para lá chegar... caminhos intransitáveis, vielas estreitas. Corredores muito apertados. Um sonho que viu escapar-se-lhe desde o primeiro dia em que percorreu os escassos trezentos metros que separavam o seu canteiro de um jardim florido. Palmilhou-os tímida, mas segura. Com a alegria incontida e a agilidade própria dos seis anos. 
Abriram-lhe as portas do paraíso. Por quatro dias! Quatro dias de sonho. E a flor murchou? Não! Foi um pequeno lapso de tempo, mas inebriante. Valeu por uma vida - era o que de mais extraordinário lhe poderiam oferecer. Não perdeu o viço nem a frescura. Cortaram-na! Precisaram do lugar para cultivar uma espécie vinda do outro lado do Atlântico. Nascida de semente lusófona, e flor em fase de criação um pouco mais avançada do que uma orquídea prestes, ainda, a desabrochar. Tinha que esperar mais um ano até à próxima lavra. Era de lei. Desabou o mundo. O seu mundo! De tal maneira que a recordação, a primeira, ficou guardada. Indelével e ciosamente.
Palácio Burnay
E agora aquela escadaria... Uma miragem. Decorada com motivos trompe l'oeil, com a finalidade de criar, nada mais nada menos, do que uma ilusão óptica. Uma observação de relance deixa a percepção de que se está perante um objecto real tridimensional e não bidimensional, como de facto é. A técnica aplicada baseia-se em pormenores realistas que combinados com uma perspectiva do claro/escuro dão uma nítida impressão de profundidade. Perto e longe. De menos a mais infinito. Apenas com truques de perspectiva o pequeno se transforma no imenso. Em tudo condizia com a situação.
 
Palácio Burnay


 
BC/




(*) - "A vida do 1.º conde de Burnay oferece aspectos curiosíssimos pela intensidade com que delineou e executou as mais imprevistas operações e especulações financeiras, bolsistas e bancárias, contando sempre êxitos rotundos e dando origem a uma das casas mais ricas de Portugal (...). Ao mesmo tempo, caso curioso, era exímio bandarilheiro amador. Também ficou, como obra notável sua, o início da reunião de colecções de arte, galeria de quadros, etc. que povoavam os sumptuosos salões do seu palácio da Junqueira, conjunto desmembrado, por partilhas familiares, em 1937, em venda pública". (conforme trecho da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira).
O Palácio de Burnay foi mandado erigir por D. César de Menezes, tendo as obras decorrido entre 1701 e 1734. O Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR) classificou este palácio como Imóvel de Interesse Público. Durante várias décadas, nele esteve instalado o Instituto de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), unidade orgânica da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), agora transferido para o Pólo Universitário do Alto da Ajuda da UTL. Em sua substituição funcionam aí os Serviços de Reitoria e Acção Social da UTL, além do Instituto de Investigação Científica Tropical.
Actualmente está prevista a fusão da UTL com a UL (Universidade de Lisboa), denominada "Nova Universidade de Lisboa", passando o ISCSP, para a sua tutela, já a partir de Janeiro de 2013. (Wiki)





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