Por vezes acontece. Em momentos chave, os Deuses - de bom gosto - decidem exibir uma orquídea na lapela. E desta foi Marte, guerreiro. Momento ténue... mas de realce! Protegida por Aquilino, não deixou ficar mal o Minho e honrou a Casa Grande. Era o resultado da prova de Língua Portuguesa, que não se fazia esperar: História Universal e Política Mundial esperavam por ela! Em Junho. Exactamente, do ano da graça de 1988, o seu ano de glória - em 87 tinham-se quebrado as grilhetas.
O mês de Junho, em que a cidade de Lisboa festeja o seu santo padroeiro, Santo António. Todos os anos. Embora as "más línguas" digam que Santo António não é O, mas Um dos santos padroeiros da outrora Olissipo, como era conhecida pelas tribos celtibéricas e, posteriormente - época romana -, Felicitas Julia.
Não obstante, rezam os cânones que, afinal, o padroeiro da capital é S. Vicente(*). Pois será... de direito! Mas a verdade é que a tradição de tal modo se enraizou no povo lisboeta que este venera, de facto, o seu santinho protector e casamenteiro, Santo António, cujo culto está associado a ritos de fertilidade. Assim sendo, é bonito de se ver o ritual que persiste, entre os jovens, da queima de alcachofras(**) para saberem do futuro dos seus amores e pedirem a sua protecção.
O dia 13, dia de Santo António, é feriado municipal. Contudo, com a realização dos "Casamentos de Santo António", logo no dia 12, inseridos no programa das Festas da Cidade, os festejos em sua honra começam de véspera, dado que, depois de um longo interregno, a Câmara Municipal de Lisboa (CML), em 1997, decidiu retomar a sua realização, adaptando e modernizando a iniciativa "Noivas de Santo António", organizada pelo Diário Popular no período de 1957 a 1974. Entre muitas outras adaptações, o evento passou a contemplar casamentos civis e religiosos. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...
"Vai de corações ao alto nesta lua
E a marcha segue contente As pedrinhas de basalto cá da rua Nem sentem passar a gente."
(Amália Rodrigues - Lá Vai Lisboa)
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Festa que acaba com os arraiais montados nos mais típicos bairros de Lisboa, especialmente em Alfama e Madragoa, celebrada a preceito com sardinha assada e regada com a refrescante sangria. Acontecimento popular, tradicional. Já pertencente aos anais da história de Lisboa.
Ironia das ironias: sempre tinha olhado de esguelha para a História. Não lhe votava mais tempo do que o necessário para o dez. O que era muito (tempo), comparado com outras matérias às quais não precisava de dedicar quase nenhum. Sempre que não fossem as "disciplinas da treta". Encabeçadas por História.
Ainda que a dita seja muito útil quanto à explicação do presente, analisando o passado, e forneça previsões fiáveis para o futuro, para uma flor, altiva apesar de aveludada, o que lá vai, lá vai... Basta que fique o essencial: um panorama global, ainda que esquematizado, mas que situe pessoas e acontecimentos; o que de grande fizeram os antepassados (desmandos, nem ao diabo lembram); uma ideia pré e proto-histórica; e, claro, algum acontecimento mais bizarro sempre dá um charme digno de nota.
Já a Política caiu bem. Para ela, foi um sulfato (químico) substituto do estrume de bovinos e ovinos. Uma novidade mais tardia. A época da curiosidade (política). E das actividades recenseadoras. E das mesas das assembleias de voto. E da militância partidária. E das mesas das assembleia e comissão política concelhias (partidárias).
Estudavam-se os sistemas políticos e eleitorais, a Política de Blocos e a Guerra Fria. EUA vs. URSS, que é como quem diz capitalismo vs. socialismo (forma eufemística de comunismo). Ainda não tinha acontecido a reunificação alemã - só volvidos dois anos (1990) a Alemanha voltaria a ser a "República de Bismark".
Orquídea tinha que apelar a Juno(***). Mesmo assim, seria conveniente desabrochar em pleno e voltar-se para a tarefa. Que se adivinhava árdua. Bastava avaliar pela quantidade de livros que foi amontoando. De História, principalmente...
BC/
(*) - Vicente de Saragoça, também conhecido como São Vicente de Fora, ou, San Vicente Mártir, foi um mártir do início do século IV que sofreu o martírio em Valência (Espanha). Na Sé do Patriarcado de Lisboa estão depositadas algumas das suas relíquias, sendo, também, um dos santos padroeiros da cidade.
Aparece representado de modos diversos: com palma e evangeliário ou, mais habitualmente, com uma barca e um corvo, porque, de acordo com a tradição, quando, em 1173, o rei Afonso Henriques ordenou que as relíquias do santo fossem trazidas do Cabo de São Vicente (o então "Promontorium Sacrum"), junto a Sagres, para a cidade de Lisboa, duas daquelas aves velaram o corpo do santo que seguia a bordo da barca – facto a que ainda hoje aludem as armas de Lisboa e de muitas outras povoações portuguesas.
(**) - Lenda grega a respeito da alcachofra:
A primeira alcachofra era uma adorável jovem que vivia na ilha de Zinari.
Um dia o Deus grego Zeus foi visitar seu irmão Poseidon e, assim que ele emergiu do mar, viu uma bela jovem mortal. Ela não parecia assustada com a presença de um Deus, e Zeus aproveitou a oportunidade para tentar seduzí-la. Ele ficou tão encantado com a jovem, com o nome de Cynara, que até decidiu fazê-la uma Deusa, para que assim ela pudesse morar perto da sua casa, em Olympia. Cynara concordou e Zeus antecipou a cerimónia, aproveitando enquanto a sua esposa Hera, estava ausente. Porém, Cynara logo sentiu falta de sua mãe e ficou doente. Então voltou escondida para o mundo dos mortais para uma breve visita. Ao voltar, Zeus descobriu o seu acto e enfurecido mandou-a de volta para a Terra e transformou-a na planta conhecida como a alcachofra.
Júpiter e Juno, por Annibale Carracci, séc. XVI. |
(Fonte: Wiki)
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