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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

"Ad-hoc"




É isso! Encontrei o fio à meada! Aí por Março/88, partiram as duas flores - orquídea e rosa - no Expresso das 11:00 H. Rumo à Cidade das Sete Colinas. Relevo acidentado. Urbe desenvolvida e cosmopolita, preservando o pitoresco dos bairros populares e o acento, tónico, das suas gentes.
Palácio Burnay (ISCSP)
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade Técnica (de Lisboa). Ad-hoc! Elaborado à medida e maturidade de flores acima dos 23 (anos, claro!). Sem habilitação própria, ainda. Auto-didactas. Queriam saber se elas tinham arcaboiço suficiente para manejar a língua de Camões. Com um pouco de sorte (e saber) lá chegariam à História e à Política. Escrita e oral. Na mira das Relações Internacionais. É que as "nacionais" andavam estropiadas... de todo.
Prestaram provas (escritas e eliminatórias) de Língua Portuguesa. Nem o épico Camões, nem o heteronímico Pessoa ou sequer o arrebatamento apaixonado de Florbela Espanca.  Não! Os caminhos da diplomacia querem-se mais prosaicos. Serviram-lhes um texto que honrava o Minho - Aquilino Ribeiro(*) e a Casa Grande de Romarigães (1957).




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Casa Grande de Romarigães
Como convém a qualquer diplomata que se preze. Uma linguagem rica, em termos lexicológicos, e recheada do falar do povo. Assim é Aquilino, a quem sua mãe quis fazer sacerdote, a monarquia fez republicano e prendeu por anarquismo. Se evadiu, viveu e estudou em França. Revoltoso no Estado Novo. Exilado. 
Com honras de Panteão Nacional na 2.ª República. Casado, em primeiras núpcias, com a alemã Grete Tiedemann e, em segundas, com Jerónima Dantas Machado, filha de um dos Presidentes da 1.ª República, Bernardino Machado (**), que morou na Casa Grande de Romarigães, acabando Aquilino, ao casar-se com a filha daquele, por lá habitar também. 
Aqui, à distância de dois canteiros, a Casa Grande que, apesar de hoje se encontrar em "estado selvagem", continua misteriosa e sedutora. Que mais não fosse, pela sua história. E com honras de classificação: "Conjunto formado pela casa, anexos de função rural e capela do Amparo. Casa nobre, oitocentista, antecedida por um grande portal armoreado. A capela do Amparo apresenta a fachada decorada com nichos, imagens, carrancas, volutas, frontões e um óculo, tudo lavrado em pedra da região. A fachada é rematada por um campanário." (in "Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado" - IPPAR, 1993).
Um doce! Está feito... "correu"! Nem bem nem mal, simplesmente "correu". Bom prenúncio. Naquela época, só excepcionalmente isso não significava resultado positivo. Sim! Mas sem convicções a priori. Nunca! Antes pelo contrário... esperemos para ver! Até porque muitos foram os chamados, mas poucos seriam os escolhidos. Apenas dois, no final. Constava-se...
A concorrência parecia de peso. Desde funcionários da Assembleia da República a familiares de membros do Governo da Nação! Um aperto! Por norma esta gente "atrasa-se na entrada e adianta-se na saída"... Mas não importa, tem o lugar cativo. Não obstante, limitar o número de aprovações nesta fase, atendendo não à prestação, mas ao número de vagas disponibilizadas, era desnecessário. Não havia motivo. Seguiriam-se as provas específicas para triagem absoluta. Porém, se mais não houvesse, já tinha valido a experiência. Desafiante. Colegas simpáticos e acessíveis. A Isabel e o Rui. 
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Citroën 2CV Ziggy
Ela, a Isabel, com rosas no regaço. De rosas precisava para amortecer os choques do Citroën 2 CV, que ainda estava para as curvas. E para as corridas. Frequentes. Quase diárias. De Rio Maior para Lisboa. O trabalho assim o exigia e queria aproveitar a boleia e conciliá-lo com os estudos, uma filha e um casamento desfeito. Boleia dupla: um tio Secretário de Estado. Por isso sabia do que falava: 
- não vou ficar por aqui! E quero Relações Internacionais porque são meio caminho andado. A política é que dá poder! O poder exerce uma enorme atracção... não creio que vá continuar a achar grande piada ao 2 CV, indefinidamente. Até um jogador de futebol, da quinquagésima divisão, me vira as costas em dois tempos. Basta que lhe apareça um pingo de "sangue azul  da última metade do século", mesmo que de origem duvidosa. Chega! E a minha oportunidade também vai chegar. Preciso do canudo.
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Aeroporto de Lisboa, com o logo da ANA, S.A.
Ele, o Rui, morto... de cansaço! Da actividade estratégica e frenética da, então, ANA (Aeroportos e Navegação Aérea) à mistura com as idas e vindas. De e para Coimbra. Além, claro, de um amor em cada porto... Aeroporto, para ser precisa. E digo "claro", porque num homem até parecia mal. Se assim não fosse, naturalmente. Satisfaz-lhes o ego. Esvazia-lhes a mente. Sábio o que encontra o equilíbrio. Ainda não descobri esse canteiro, mas garantem-me que existe. Possivelmente... a imaginação pode levar-nos longe e os efeitos psicossomáticos são poderosos. Diria que determinantes, o "placebo" e o "nocebo".






BC/


(*) - Aquilino Gomes Ribeiro (Carregal, 13 de Setembro de 1885 - Lisboa, 27 de Maio de 1963).


(**) - Bernardino Machado foi 0 3.º (6 de Agosto de 1915 - 5 de Dezembro de 1917) e 8.º (11 de Dezembro de 1925 - 31 de Maio de 1926) Presidente da 1.ª República Portuguesa, tendo o respectivo mandato sido interrompido por golpe de Estado, em ambas as vezes.
 





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