- Não chores que me incomodas!
- Não chores filha, é a morte que me chama! Fala com o Berto M., ele sabe onde há-de enterrar.
- Mas o Berto já morreu, Mãe.
- Não é esse... o outro, o presidente...
- A roupa... arranja aí qualquer coisa. O resto, sabes onde está tudo... governa!
E não mais me deste os sinais vitais da tua força que parecia não ter limite. Resististe, anos a fio, a cirurgias arrojadas e tratamentos vários, sempre sem olhares para ti. Satisfeita só pelos médicos te darem permissão para trabalhares, desde que protegida do sol e a horas convenientes. Trabalhar era o teu vício, de tal maneira que só permitiste que o "polvo", irremediavelmente, espalhasse os seus tentáculos depois do que te tinhas proposto fazer. Quando cedeste às minhas solicitações, sem reclamar... um calafrio me percorreu, só um pensamento era possível: o pior vem a caminho!... E veio a passos rápidos, fazendo-te degenerar dia-a-dia. A olhos vistos!
É nestes momentos que experimentamos um sentimento de impotência desmedida; frustração incomensurável. A angústia de um coração despedaçado. Até à fase em que era perceptível apenas um único sinal vital: dois dias de respiração ofegante. Nada mais.
Depois, MÃE, partiste?! Que crueldade! A terra abriu-se a meus pés - fui a primeira e a última a ver-te lívida e sem respiração. A tocar-te. Fechei-te o olho que restava - semiaberto - e não deixei que ninguém mais te vi-se ou te toca-se. Parecia-me um sacrilégio! Errei? Compreendes que o momento da partida era só meu? Estou certa que sim e que disso te orgulharias! MÃE! Minha MÃE eras tudo que eu tinha a que, legitimamente, podia chamar MEU!
Depois, MÃE, partiste?! Que crueldade! A terra abriu-se a meus pés - fui a primeira e a última a ver-te lívida e sem respiração. A tocar-te. Fechei-te o olho que restava - semiaberto - e não deixei que ninguém mais te vi-se ou te toca-se. Parecia-me um sacrilégio! Errei? Compreendes que o momento da partida era só meu? Estou certa que sim e que disso te orgulharias! MÃE! Minha MÃE eras tudo que eu tinha a que, legitimamente, podia chamar MEU!
Coisas de Mãe
Se os filhos estão bem alimentados,
É ELA que se sente satisfeita.
Se estão risonhos e felizes,
É ELA que fica sorrindo também.
Se estão de roupa nova,
É ELA que se sente bonita.
Se eles vão bem na escola,
Parece que o aproveitamento escolar é d'ELA.
Se arranjam novos amigos,
É ELA que se sente popular e querida.
Se viajam para novos lugares,
É ELA que goza o passeio, mesmo ficando em casa.
A cada meta que atingem ou troféu que ganham,
É ELA que fica com a sensação de vitória.
Desnecessário dizer o que ELA sente,
Quando alguma coisa dá errado, porque, por tabela,
ELA sentirá em dose tripla,
Cada tombo, Cada perda, Cada rejeição, Cada fracasso, Cada desapontamento.
Tudo isto são... coisas de Mãe!
Se os filhos estão bem alimentados,
É ELA que se sente satisfeita.
Se estão risonhos e felizes,
É ELA que fica sorrindo também.
Se estão de roupa nova,
É ELA que se sente bonita.
Se eles vão bem na escola,
Parece que o aproveitamento escolar é d'ELA.
Se arranjam novos amigos,
É ELA que se sente popular e querida.
Se viajam para novos lugares,
É ELA que goza o passeio, mesmo ficando em casa.
A cada meta que atingem ou troféu que ganham,
É ELA que fica com a sensação de vitória.
Desnecessário dizer o que ELA sente,
Quando alguma coisa dá errado, porque, por tabela,
ELA sentirá em dose tripla,
Cada tombo, Cada perda, Cada rejeição, Cada fracasso, Cada desapontamento.
Tudo isto são... coisas de Mãe!
Tal & Qual, MÃE, eras assim mesmo! "Coisas de Mãe", só peca por defeito... vivias em função de mim. Eras a minha força e o meu pilar de segurança. Sem ti, sinto-me frágil, desprotegida e indefesa. Paralisada e completamente desmotivada. Apetece-me dormir... dormir... dormir o sono eterno... e abraçar-te! Depois de conseguir que levassem a cama articulada acomodada no meu quarto, onde passaste os últimos dias, se é possível, consegui sentir ainda mais a TUA falta. Parece que a dita cama ainda evocava uma presença. O quarto parece-me agora enorme, vazio... Aliás, como toda a casa!
Para sempre
Por que Deus permite
que as mães se vão embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve
e passa sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
- Carlos Drummond de Andrade
Não, não e não! Não foste embora. No ar que respiro perdura o teu aroma, de Mãe, qual Orquídea Branca como quiseste baptizar-me. Cada recanto tem a tua marca. Cada objecto evoca-me a tua presença. Até aqueles que foram motivo de tanta "desavença"... não consigo desfazer-me deles. Perseguir-me-ia a sensação de que te estava a "pôr na rua"!
Caminho, autómata. Ao pisar os "teus domínios", oiço a tua voz que, ainda longe, já vem apregoando "asneiras" feitas - visões diferentes, mas que se conjugavam... E as lágrimas teimam em rolar, mas, por favor!, não te incomodes, por ti hei-de sobreviver. Era tudo o que querias!
P.S.: A Maria, sabes?, a "Maria de sempre"... - as vizinhas lá do fundo, sempre amigas presentes, úteis, atenciosas e dedicadas - deu um salto cá acima, ao Minho, para visitar a Mãe (dela) e não se esqueceu da minha (Mãe)... De ti, de mim! Deixou-te orquídeas. Lindas!
Ah! E ainda não te contei... não deves ter reparado, recolhida e alheia como estavas a tudo e todos que te rodeavam, absorta já na sétima galáxia... A tua irmã, sim meia-irmã, de quem vagamente me havias falado, veio prestar-te homenagem. A última.
Apresentou-se, com o marido, e deixou-te um lindo e enorme ramo de açucenas amarelas. Dizem que as açucenas são o símbolo da tristeza e angústia!...
BC/
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