Instalações espaçosas, mas vazias. Cinzentas... Não fora o longo manto verde que se estende até à várzea, povoado por uma flora ainda bela, uma fauna já escassa e o cão, o Louro - uma ameaça de pastor alemão - afável e dedicado, o dia-a-dia cairia na monotonia do vernáculo praguejar galego. Não! Não chegava a ser monotonia. Aquele genuíno vociferar, vivo e dinâmico, ecoando em todo o volume do prédio, imprimia uma sensação de constante movimento. Sempre igual... mas sempre novo!
E o resto... é um fornecedor a sair e um cliente a entrar.
O telefone que toca... uma encomenda para anotar.
A mercadoria que chegou, para conferir, e outra que necessário se torna pedir.
Uma outra para despachar e a guia de remessa para passar.
Um cheque para depositar e a conta corrente para actualizar.
Uma outra para despachar e a guia de remessa para passar.
Um cheque para depositar e a conta corrente para actualizar.
A máquina que avariou, a energia que falhou... a tinta que vai secar!
- Chama à EDP, rápido! ...Deixa, vem comigo! Estes portugueses...
- Sim! Mas se os portugueses são tão pouco eficientes, porque carga de água é que "ustedes" vieram para cá?!
- Por tua causa... que te parece?
Nada! A ela não lhe parecia nada. O cheiro e a presença de uma orquídea é agradável em qualquer circunstância. Poderia servir de isco, mas nunca seria motivo suficiente para tal. Além do seu cativeiro - conhecido - algures entre as páginas de um livro que, ainda que aberto, a tinha suspensa. Mas segura! Ou tinha tido... as amarras, por fortes que sejam, também se soltam. Com o desgaste. E - já disse - elas soltaram-se. Não! Quebraram-se. À força!
A tal, a história... foi-se desenvolvendo aos solavancos. Subrepticiamente. Muito espaçada. Não obstante, com alegria incontida. A loucura, saudável, dos verdes anos... Não obstante, como diria F. Pessoa, "sem a loucura que é o homem mais que a besta sadia, cadáver adiado que procria?"
BC/
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