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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Era Fevereiro... 1989!





Era Fevereiro, do ano comum de 1989. Orquídea Branca, flor sem tempo, foi transplantada. Após uma década. Mudou de um canteiro exíguo que exalava o cheiro forte, mas delicioso, de resina verde dos pinheiros bravos. De paredes-meias com a engrenagem de motorizadas que já viram tempos, quiçá, de sonho; se decidiram por uns dias de férias antecipadas; ou, simplesmente, chocaram com a realidade do quotidiano. De onde, em datas previstas, se ouviam vozes esbaforidas da corrida, do salto e dos pontapés na bola.  Da vista, larga, para um tráfego que fluía, por regra, espaçado, mas constante - daí ser presa fácil para vendedores de Bíblias, serviços de chá, colecções do Astérix e/ou panelas de pressão.
Mudou... Da toca para a gaiola! Sem pressas. Devagar, porque mais importante que a velocidade é a direcção que se toma. E não fazer do hábito um estilo de vida! Andar por outras ruas, mudar de caminho, descobrir novos horizontes, procurar diferentes espaços de convívio, novos relacionamentos, ver as coisas de outras perspectivas, areja, permite outra motivação - um antes esperançoso. Se o depois não for muito encorajador, já valeu o antes. E o antes é eterno. O depois  extingue-se na sua (desse antes) concretização, prolongando-se, criando-se outro antes. E outro... E outro... Logo o que releva é a capacidade de reinvenção.
No entanto a direcção estava tomada! Era depois. Mudou no espaço, profissionalmente. Continuavam a não ser largos os horizontes, mas era gratificante a autonomia plena e o invejável livre arbítrio. Compensava dispersando-se por outras áreas também, designadamente a académica. Sempre área de eleição: uma mistura de regozijo, escape, realização, plenitude...
Os laços mais íntimos, esses já haviam mudado, ou antes, de facto tinham sido cortados. Pela raiz! Uma vida que acabou por ser quase de "fado vadio de terror", pautada pela vontade de acordar insecto, com um ferrão comprido, muito comprido e acutilante, foi transformada em "fado vadio", com o carimbo da ansiedade. Mas calma! Ainda que, como sempre, com emoções filtradas, permitiu-se voltar a sonhar. Pelo menos, asas abertas, voava... voava... suprema satisfação! Recuperara uma vontade férrea de viver. Sempre encarou "o começar de novo" não como uma barreira, mas como um desafio a vencer. Uma meta a atingir!



BC/







quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Pétalas negras de irreverência e aveludadas de suavidade





A natureza extasia-nos com indizível beleza e surpreendentes fenómenos. O arco-íris (arco-celeste, arco-da-aliança, arco-da-chuva, arco-da-velha) é um belo fenómeno óptico, com a particularidade de separar a luz do sol, quando este brilha sobre as gotas de chuva. A sua formação deve-se à dispersão da sua luz, a qual é refractada pelas gotas de água. Tem na Bíblia (Antigo Testamento) uma representação mística - aliança entre Deus, Noé e todos os Homens que sobreviveram ao dilúvio.

Este fenómeno só se observa num dia chuvoso em que aparecem raios de sol, quando nos posicionamos num determinado ângulo; sendo que o mais perfeito e belo
arco-íris pode ser visto quando nos situamos num local de céu claro com vista para outro em que o céu ainda está escuro. Sempre uma ilusão óptica!
Orquidea Negra
Não se tratando de qualquer ilusão, as orquídeas negras parecem ser um mito: ainda não foi encontrada nenhuma orquídea verdadeiramente negra! Para um olhar atento e perscrutador, de facto, elas são de um vermelho púrpura, intenso, aveludado, muito escuro, que à primeira vista dá a impressão de tratar-se de negro, atendendo às pequenas dimensões desta flor: apenas um centímetro de diâmetro.
Tais orquídeas negras, Orquídea Negra tornara-se um mito. Sobrevivente a um sem número de adversidades. Mimada pelo destino... contrariando, de todo, o conceito de inevitabilidade fatal! Resistente. Tímida na abordagem e integração, mas impetuosa na afirmação; aveludada, mas agreste; mau feitio, mas muito bom humor. Com a alegria felina, intensidade decibélica e energia fotovoltaica de quem existe não para que gostem dela. Existe para ser!
Basta-lhe: conhecer-se para adivinhar (e assumir) o resultado de cada atitude que toma; explorar-se, num ritual de perfeição inatingível, sempre à caça de pormenores, irremediavelmente desestabilizadores e desestabilizantes; um cantinho, que seja só seu, bem arejado e suficientemente iluminado, para que possa florir, alimentando-se quase exclusivamente da terra e do ar.
Qual
arco-íris, a intensidade do seu brilho tem mais força em dias menos auspiciosos, nublados, menos bafejados pela fortuna. Não obstante, as suas pétalas, negras de irreverência e aveludadas de suavidade, não toleram ser pisadas. Jamais! E não é de memória curta... perdoa, mas não esquece! Pois... "gato escaldado de água fria tem medo" e esquecer seria o mesmo que não tirar ilações, ensinamentos da experiência vivida, "andar neste mundo por ver andar os outros". E à primeira qualquer cai, mas à segunda só cai quem quer. Tal e qual! É uma questão de lucidez e racionalidade. E porque não de sobrevivência? E, talvez, até, em abono da verdade, de timidez ambivalente - tímida e audaz, em momentos diversos e distintos. Irritante e propositadamente primária, às vezes! Faz parte da sua força o gosto pelo choque e pela contradição - fontes de desenvolvimento. Só por isso!



BC/


Aviso:

Caros visitantes, após decisão de remodelação, o blog "Orquídea Negra" foi dividido em dois: "Orquídea Negra para além do arco íris..." e "Orquídea Negra e o capricho do momento...", pelo que, pedindo as minhas desculpas pelo incómodo eventualmente causado e esperando continuar a usufruir da V/ preferência, que agradeço, aqui deixo o endereço através do qual podem aceder à outra parte:

http://negraorquidea7.blogspot.pt/






Rosto




O significado das orquídeas transmite um sem número de mensagens. Porém, historicamente, simbolizam riqueza, amor e beleza. Para os antigos gregos, as orquídeas sugeriam virilidade, mas, após a ascensão da popularidade da colecção inglesa de orquídeas, estas passaram a ser o símbolo da luxúria. Os Azetecas, como tradição, bebiam um misto de orquídeas selvagens (vanilla) que, segundo as suas crenças, lhes conferia poder e força; enquanto a cura de doenças pulmonares e tosses, pelas orquídeas, era crença dos chineses. Nas suas muitas variedades, são conhecidas pela sua beleza delicada e o seu carácter exótico. Possuem uma história intricada e interessante, incluindo o seu significado - o amor, a beleza, o luxo e a força.
Sendo um tipo elegante de flor, fazem o presente perfeito para muitas ocasiões. A sua aparência graciosa atrai a atenção imediata, e por ser uma flor exótica e fora do comum, invoca um sentido de refinamento e de inocência.
Embora sejam catalogadas, geralmente, como flores tropicais, as orquídeas crescem naturalmente em quase todo o tipo de clima. Apesar da sua versatilidade, possuem algo de distintamente exótico e, de acordo com alguns especialistas, são consideradas uma das flores mais evoluídas do mundo. Honra que lhe cabe pela distinção sexual e rara beleza. Daí que hoje, as orquídeas simbolizem a dita (beleza rara), a delicadeza e o misticismo que encantam os que as recebem, sendo poucas as flores capazes de se exprimirem tão requintadamente.
O número total de espécies, no mundo, é de cerca de 35 000, subdividido em cerca de 1 800 géneros e cada género numa centena de espécies. As orquídeas mais populares vão dos géneros mais simples até aos mais exóticos, do qual é paradigma a Orquídea Negra.





http://lh5.ggpht.com/_oI0phjmoRaU/SfXncQme3NI/AAAAAAAACLA/w7lnCpR6-ak/arco%20iris5.pngEsta, outra, também nasceu flor - orquídea. Branca. Vontades alheias baptizaram-na de santa. As circunstâncias, o ser e o estar tornaram-na bárbara... Celta, sempre resistente à subjugação, ainda que, por isso, tenha que se "expandir" num núcleo exíguo e fechado. De tão acessível torna-se, a outrem, (imaginariamente) inatingível... E é por aí que "Orquídea Branca" acaba por tornar-se no mito da "Orquídea Negra": ainda não foi encontrada nenhuma orquídea verdadeiramente negra, elas são de um vermelho púrpura, intenso, aveludado!
A cor ideal da sensibilidade às artes plásticas que dão largas à imaginação e materializam o Ser; à literatura, arte de juntar palavras para O desnudar e lhe dar voz; à moda, arte que sintetiza e veste a expressão corporal desse Ser. Sensibilidades (inconscientes)...  saberes auto-didácticos...
De resto,
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo." - (Álvaro de Campos)



BC/